domingo, 13 de janeiro de 2008

Aceitar. E deixar passar...

Estava só, num deserto. Avistei uma caravana aproximar-se, cruzando-se no meu caminho. Este era um comerciante, cheio de coisas vistosas, apeteciveis, excitando o meu lado consumista.
Claro que as primeiras coisas que me mostrou foram as melhores, dos seus segredos, aquelas com que a todos encanta. Contavam-se pelos dedos de uma mão, coisas encantadoras... Estava realmente cheio de bugigangas. Só que... nem todas aparentavam ser de tão má qualidade.
Cinco meses...precisou ele para me mostrar tudo o que tinha. Aos poucos, percebi que até as coisas encantadoras, só passavam pela aparência. Que nas minhas mãos oxidaram com o meu suor, quando as peguei para experimentar.
Perdi tanto tempo debaixo daquele Sol, desidratei de tanto suor, tanta sede, tanto tempo ali parada...E no fundo, ele sabia que nada me estava a vender. Que nada eu iria comprar. Com tanta coisa má, que bastava eu pedir para ver com as mãos e me aperceberia logo que nada valiam aquelas coisas todas...que nem se quer dinheiro eu possuia... não me ia vender nada.
Ele não me estava a vender nada... Então, comerciante? Quem é aquele homem? Um ladrão?? Mas...roubou-me o quê? Meu tempo...meu coração...minha cabeça...meu corpo...meus olhos...minha saúde...minha paciência...e ainda lhe comprei algumas peças que me mostrou no princípio, sem ainda lhes ter pegado, onde me endividei...
Ele não me queria vender nada... Porque fui tão enganada?
Comerciante...e não me vendeu nada.
Ao fim de 5 meses, sabendo ele que nada me iria vender, desistiu e começou a arrumar as coisas de volta na caravana. Com todo o cuidado, fiquei, e perdi mais esse tempo, sabendo que nada lhe iria comprar...ajudando-o a embrulhar aquelas misérias todas de volta, na caravana...
Como se nada tivesse passado, ao fim desse tempo, ficamos os dois a olhar um para o outro. Questionando-nos, provavelmente, o que estavamos os dois a fazer durante tanto tempo, fingindo ele que me iria vender e eu que me iria empenhar para comprar aquilo tudo.
É difícil, ainda assim, dizer "Adeus"...percebi.
Alguém tinha de dar o primeiro passo e regressar ao seu caminho. Aos seus olhos, disseram os meus "Aceito".
E deixei-o passar...

3 comentários:

Anónimo disse...

EXCELENTE!!!!
Não podia estar melhor definido...
bjs da tua MELHOR AMIGA.

Anónimo disse...

tal como aqui revelas, a vida é um conto de fadas, e os olhos sao os que mais comem. tenhamos nós a idade que tivermos e passamos a vida toda a ver as coisas como as crianças, olhamos para o exterior delas, e se nos agradam "compramos", consumimos, desejamos, mas só depois disto tudo é que nos lembramos que afinal, o que compramos também tem um interior, que nem sempre é igual ao exterior, uns mais sensíveis, outros menos, uns que mostram o que não são, whatever! o que realmente interessa é que todos nós temos um interior que para alem de por vezes gostar, e ignorar que so está a ser comprado, consumido, ou desejado, merece ser realmente respeitado por tudo aquilo que é e que faz. mas nem sempre o demonstramos, mais uma vez parecemos crianças a demonstrar os nossos sentimentos.
nunca demonstramos o que realmente sentimos, será por medo? desconfiança? so se for de nós próprios! pois, como conseguiremos confiar em alguém se pelos vistos nem confiamos em nós e a cima de tudo estamos a faltar ao respeito a nós próprios? mas afinal de contas onde está a nossa dignidade?!?!?!?

beijo vzinhança!

eme disse...

A pensar tanto na minha dignidade como na dele, por bem, aceitei deixa-lo fingir dar o primeiro passo.
Assim, nem eu a perdi, nem ele.

Eu gosto dele. Eu gostei muito dele. Ainda que sem lógica alguma...Se alguém disse que o coração pensa e a cabeça sente, alguma vez Amou? Eu sobretudo Amo. Com amor eu sei viver comigo.

Mas lê-me. Estou espalhada pelo bolg inteiro. Se me leres, percebes que o meu conceito de Amar, é precisamente "aceitar", o que vier, ficar; ou não, e nesse caso "deixar passar...". Aí encontro-me novamente.

Obrigada e um beijo,

Maria